Sidney Pinho Junior

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ESPORTE, REMÉDIO PARA TODOS OS MALES

Parte 1 - Minha história com a Fórmula 1...

Hoje quero começar a realizar plenamente a proposta deste blog, ou seja, ser um espaço pleno em assuntos, temas e tendências que, sei, não parecia de fato que eu cumpriria tal promessa na medida em que, até aqui só falamos de política e, tenho certezas, de forma até bem ranzinza!

No entanto meus caros amigos, como me sinto mais descansado devido ao resultado das eleições, posso cumprir minha meta de passarmos a tratar de assuntos dos mais variados a até mesmo os mais polêmicos ou pitorescos.

Hoje inicia-se o final de semana dedicado a 39ª edição do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1; um dos esportes mais acompanhados no mundo e o que ocupa a segunda posição na paixão de todos os brasileiros; um esporte que já nos deu três campeões mundiais e nos guindou a uma das potências deste elitizado mundo das corridas de automóveis.

Lembro-me ainda muito bem, rapazola que era e, creio, jamais sairá de minha memória a linda vitória de Emerson Fittipaldi no grande prêmio dos EUA, na saudosa pista de Watkins Glen em 1970. Esta, a primeira vitória do “Rato” na fórmula 1 colocou o Brasil de vez no mapa dos esportes internacionais e, é bom que se registre agora, embora meio que tardiamente que foi exatamente Emerson Fittipaldi que lançou o Brasil no mundo do esporte internacional, pois até esta magistral vitória o Brasil destacava-se apenas no futebol, que acabara de conquistar seu terceiro título mundial no México, passando a hegemonia do esporte ao conquistar em definitivo a Taça Jules Rimet.

A primeira vitória do “Rato” consagrou, postumamente, o magistral talento do primeiro autro-germânico campeão da categoria, Jochen Rindt que falecera prematuramente nos treinos para o GP da Itália daquele inesquecível ano, GP que até hoje é realizado em Monza.

Naquela época eram disputados pouco mais de dez GP´s por ano, sendo o mais importante o de Mônaco, disputado até hoje nas estreitas ruas de Monte Carlo. A temporada de 1970 teve treze GP´s e os mais importantes passaram naquele ano a serem transmitidos “ao vivo” para o Brasil pela TV Globo do Rio de Janeiro, a saber: Mônaco, França (Paul Ricard), Inglaterra (Brands Hatch), Itália (Monza) e Estados Unidos.

Eu era um menino (naquela época não existia o termo adolescente) de 14 anos, apaixonado pelo Fluminense, supercampeão carioca do século 20 e fiel torcedor, daqueles de carteirinha, que ia onde o Flu jogasse, fosse no mítico e gigantesco Maracanã ao acanhado estádio dos Ventos Uivantes, da Portuguesa carioca na Ilha do Governador!

Este ano de 1970 foi realmente inesquecível para mim. O Flu conquistou seu primeiro Campeonato Brasileiro, o Brasil foi tricampeão mundial no México e eu, descobri uma nova paixão, a Fórmula 1.

Mas voltando à Fórmula 1, descobri naquele ano meu primeiro grande ídolo fora do futebol; Emerson Fittipaldi que, além de magistral piloto, influenciou meu futuro imediato, quando passei a alimentar o sonho de me tornar piloto de corridas.

Emerson era um gênio das pistas e eu, claro, não perdia uma transmissão da TV Globo e, quando pela primeira vez a F1 disputou um GP no Brasil em 1973 em Interlagos eu estava lá e, até 1996, durante longos vinte e três anos jamais deixei de assistir a um GP Brasil, ali, no autódromo, ouvindo e me arrepiando com os rugidos dos poderosos motores V8, V10 e V12 e, até hoje ainda me lembro de talentos que passei a admirar e que por anos me fizeram sonhar; Jean Pierre Beltoise que corria pela BRM, uma equipe inglesa dos anos 70 e extinta há muito. Jackie Stewart, um tricampeão legítimo, honesto, ético e incapaz de cometer um deslize como os de Schumacher ou Alonso.

Chorei e vibrei com vitórias fabulosas não só de Emerson, mas principalmente de Nelson Piquet, para mim o melhor piloto brasileiro de todos os tempos; de Ayrton Senna, do falecido Moco, na verdade José Carlos Pace e até mesmo com as poucas mas emocionantes vitórias de Rubens Barrichello e Felipe Massa.

Assisti, “in loco” a vinte e três emocionantes Grande Prêmios Brasil de Fórmula 1, em São Paulo e a todos os disputados em Jacarepaguá no meu Rio de Janeiro. Depois os compromissos profissionais e familiares me impediram de estar presente, como neste ano e, confesso; a morte de Ayrton Senna e a ausência de verdadeiros talentos brasileiros na F1, não mais me motivam a fazer qualquer loucura para lá estar novamente.

Lembro-me ainda muito bem da minha primeira grande viagem e maior aventura adolescente. Juntei meus caraminguás, vendi minha bicicleta e um par de patins e juntei o suficiente para, junto com outros grandes amigos e fanáticos pelo Fluzão e pela F1, literalmente fugirmos para São Paulo numa noite de sexta-feira, eu, Luís Carlos, Ricardo Dahin e Ronaldo Vovô, os dois primeiros colegas de classe no maravilhoso Colégio Pedro II de lembranças magistrais e o terceiro, não menos importante amigo, vizinho de prédio.

Cada um contou uma “estória” para cada um de nossos pais, mas eram todas as mesmas “estórias”; um dizia que passaria o final de semana na casa do outro, estudando e os outros contavam a mesma coisa e, justificadas as ausências de casa partimos para a rodoviária para pegar o “Cometão” rumo à capital paulista. Que loucura!

São Paulo era outro mundo; distante e um universo a ser descoberto  por quatro jovens ávidos por novas emoções e certos de que a F1 era a coisa mais importante de nossas vidas. Não falávamos de outra coisa no colégio e nas rodinhas de amigos; era futebol e fórmula 1. Naquela época namorar era algo secundário e, o que valiam eram as emoções a serem vividas, as descobertas, as poucas novidades de um mundo reprimido pela ditadura militar, pelos altos preços dos combustíveis e pelas limitações tecnológicas.

1973! Primeiro Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, São Paulo, Interlagos, um sonho realizado e que jamais será esquecido! Não sei por onde andam meus amigos, se estão vivos ou mortos mas, resta uma certeza; eles também jamais se esquecerão daqueles dias maravilhosos, “perigosos”, emocionantes, puros, de sonhos juvenis!

Chegando à rodoviária de São Paulo, não o magnífico Terminal Rodoviário do Tietê, mas na antiga Rodoviária de São Paulo localizada no centro da cidade, desembarcamos num sábado frio e chuvoso, ainda era noite, pouco mais de 5 e meia da manhã, mas nós estávamos eufóricos, animados e loucos para chegar a Interlagos, sem qualquer informação ou conhecimento prévio da cidade, de seus costumes; com pouco dinheiro nos bolsos e carregados de bagagens, duas barracas de camping e muita disposição para desbravar um mundo novo e cheio de novidades.

Depois de enfrentarmos dois ônibus que nos levaram do centro de SP até as imediações do autódromo de Interlagos, maravilhados com nossa aventura, nos deparamos, os quatro, com a barreira que nos separava da realização de nosso sonho; o muro do autódromo de Interlagos; alto, quase quatro metros de altura. Como poderíamos transpor tal dificuldade? Como conseguiríamos entrar e realizar nosso sonho se tínhamos pouco mais do que o suficiente para comprar nossas passagens de volta ao Rio, como?

Paramos, sentamos no meio fio em frente ao muro e nos deparamos com a realidade que parecia sem solução. Teríamos viajado até lá para nada? Morreria ali nosso sonho de ver um carro de fórmula 1 de bem perto, ao vivo e á cores (é bom lembrar que a TV à cores chegara ao Brasil a pouquíssimo tempo...)?

De repente, eram pouco mais de 8 e meia da manhã e eis que um forte rugido quase nos estoura os ouvidos. Era o ensurdecedor barulho, do ronco do potente motor V8 Ford Cosworth da Tyrrell de Francois Cevert que havia sido acionado nos boxes. Um rugido que depois de nos fazer pular e tremer de medo, nos encheu de esperança e coragem; não só a nós mas a um monte de aventureiros que como nós empreendera a realização de um sonho comum.

Começou um enorme corre-corre, as atenções se voltavam para dentro do autódromo e todos, principalmente os policiais que ali estavam, tomando conta, vigiando para que nenhum “penetra” conseguisse entrar em Interlagos sem pagar o caríssimo preço da entrada, também correm em direção aos portões e abandonam-nos a nossa própria sorte.

Luis Carlos, meu amigo de colégio, para nós a maior autoridade em fórmula 1, levanta-se e nos ordena que o sigamos e, sem saber o por quê de sua reação todos catamos nossos bagulhos, nossas bagagens e saímos em disparada atrás dele e de um monte de gente que corria em direção contrária aos portões do autódromo, contornando os muros de Interlagos até chegar a uma parte do muro cercada por um enorme matagal. O muro era baixo, menos de três metros de altura. Ronaldo Vovô faz “cadeirinha” para mi  que ao alcançar o topo do muro vislumbro ao longe os boxes, a movimentação dos mecânicos, pilotos, imprensa e da grande torcida que já se fazia presente.

Enquanto eu vislumbrava atônito aquele novo paraíso, dezenas de pessoas pulavam o muro e se embrenhavam pelo interior do autódromo. Luis Carlos me grita: - e aí Chico Fú, dá prá pular ou não dá?... – diante do grito de meu amigo eu recobro a razão e confirmo que “sim”, tava tudo limpo,  nós podíamos pular o  muro e, por fim, começar a realizar nosso sonho...

Foi o final de semana mais inesquecível de toda a minha vida (ainda bem que nenhum de meus filhos nasceu num final de semana...) e, para sempre eu me lembrarei daquela inesquecível vitória do “Rato”, meu primeiro grande ídolo, alguém que ajudou a moldar minha vida, meu caráter e a certeza que hoje tenho que, os sonhos precisam ser realizados e, mais, as dificuldades existem sim, mas podemos superá-las, sempre...

(continua na próxima segunda-feira, com uma breve retrospectiva da F1 sobre minha ótica pessoal...)

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