Sidney Pinho Junior

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ESPORTE, REMÉDIO PARA TODOS OS MALES (3)

Parte 3 – Nelson Piquet “o gênio”...

“Limão”, este era o apelido de Nelson Piquet junto a imprensa brasileira que, por estar acostumada com o pouco conhecimento e cultura dos jogadores de futebol, soberba, tenta aplicar a todos os atletas, de todos os esportes uma arrogante conduta de “astros”, como se de fato fossem eles, os jornalistas as verdadeiras estrelas do esporte.

Nelsinho era de fato de poucos amigos, sim por quê, primeiro não tolerava comentários absurdos como estamos acostumados a ouvir dos “comentaristas” esportivos que, acreditando que nós, os telespectadores não temos senso crítico, não iremos reparar suas gafes e seus desconhecimentos técnicos sobre os esportes que narram e querem comentar como se autoridades fossem.

O “Limão” não suportava comentários absurdos, não suportava que dessem ao público explicações pouco críveis e, pior, não tolerava ser comparado com quer que fosse, pois acreditava que a fórmula 1, por ser um esporte essencialmente técnico e que a despeito de ser o talento do piloto o principal fator para se alcançar as vitórias, não era o mais importante pois o “carro” é na verdade responsável por 50% das possibilidades de vitória. O carro de F1 não é o tênis de um corredor, não é o maiô de um nadador e muito menos a chuteira de um craque de futebol, mas infelizmente nossa imprensa ainda não aprendeu tais verdades1

Bem, retomando o rumo da prosa, o que eu quero hoje mesmo é falar um pouco das façanhas de Nelson Piquet, este gênio que nunca deu a menor importância ao que dele diziam, ao que falavam dele nos bastidores e, sempre manteve o foco em seu trabalho que, nunca negou ser “lazer” e não profissão ou emprego. Sempre que podia ou tinha a oportunidade “destilava” as verdades que os “puros” sempre fizeram a mais absoluta questão de esconder ou maquiar.

Na temporada de 1988, Nelson havia saído da Williams e ido para a Lotus e Senna de lá para a McLaren que trocara o motor Porsche pelo Honda e a Lotus além de manter por mais uma temporada o motor Honda, passava a contar com os números 1 e 2 em seus carros já que contratara o atual campeão da F1, justamente Nelson Piquet que faria então dupla com o “temível” Satoru Nakajima; o pior japonês que já passou pela F1 em todos os tempos, mas que era piloto oficial da fábrica japonesa.

Bem, enquanto os McLaren de Prost e Senna com o forte motor Honda eram disparadamente os melhores carros da temporada, a Williams que tinha o um dos melhores carros na temporada de 87, perdeu não só Nelson Piquet, saturado com as preferências da equipe a Nigel Mansell, “O Feio”, perdeu também os fortes motores japoneses e passou a correr com um tal motor “Judd”, na verdade o “Judas” da categoria naquele ano.

O carro da Lotus, no decorrer da temporada, ao contrário dos McLaren “involuíam”, eram cada vez piores e, não fossem os motores japoneses, a Lotus teria sumido do mapa.

A diferença entre a McLaren Honda e as demais equipes era tão gritante que das 16 provas da temporada a McLaren venceu 15 e seu único insucesso foi no GP da Itália onde Gerhard Berger venceu com seu Ferrari, herdando a liderança de Senna devido a uma barbeiragem do novato piloto francês Jean-Louis Schlesser que substituía “O Feio” que estava com problemas de saúde. Nãso fosse esta fatalidade Senna teria ganho de ponta à ponta e teria conquistado o título daquele ano com mais facilidade, já que seu único oponente era um outro francês, seu companheiro de equipe, Alain Prost, “Le Professeur”, como lhe chamavam seus compatriotas.

Mas voltemos ao “Limão”. Já profundamente irritado com o carro Lotus, com os engenheiros da equipe, com os mecânicos e com tudo daquele que chamou de “caminhão”, a cada corrida Piquet tentava algo novo para tentar mudar os resultados, conseguir alguma novidade que lhe possibilitasse melhores resultados, mas de nada adiantavam seus esforços, o carro era péssimo.

O talento de Piquet era enorme e, mesmo tendo um carro quase 80 quilos mais pesado que os McLaren, Ferrari, Williams e Benneton, ainda assim pontuou em sete dos dezesseis GP´s da temporada, fazendo pódio em três corridas, Brasil, San Marino e Austrália, chegando em sexto lugar na temporada com 22 pontos somados enquanto o japonês seu companheiro somou apenas 1 pontinho.

O GP da Alemanha em Hockenheim foi um daqueles GP´s memoráveis que só quem ama a F1, só quem reconhece os verdadeiros grandes pilotos, só quem é capaz de enxergar o arrojo aliado ao talento e a coragem é capaz de entender e admirar o “grande piloto”. E aquele GP, pelo menos para mim, não foi memorável ou inesquecível devido a pole-position e a consequente e previsível vitória de Ayrton Senna, não, realmente o motivo que me faz recordar disso, deste GP em especial, foi mais uma das grandes demonstrações de coragem e arrojo de Nelson Piquet.

Sabedor que seu Lotus não tinha a menor chance na corrida, que os favoritos estavam na frente no grid, mais uma vez Piquet tinha que tentar inventar uma solução. Mesmo pilotando o “caminhão” Piquet largaria atrás apenas de Senna, Prost, Berger e Alboreto com seus McLarens e Ferraris.

O domingo da corrida amanheceu chovendo; um dilúvio caía sobre Hockenheim e, naquelas condições as chances de Ayrton aumentavam em muito, já que o brasileiro era um especialista em pista molhada. Ao alinharem seus carros no grid Piquet mais uma vez toma uma decisão surpreendente. Piquet chama seu mecânico chefe e manda que retirem os pneus de chuva de seu carro e coloquem pneus de pista seca, os famosos “slicks”, sob protestos veementes de seus engenheiros mas, a decisão afinal era dele, o piloto.

Foi dada a largada sob intensa chuva. Todos os carros, menos o de Piquet, estavam “calçados” com pneus de chuva, mas certo de que sob aquelas condições adversas seu “caminhão” seria facilmente superado por quase todos que vinham atrás, não aceitou os argumentos da equipe e largou com os slicks. Claro, Piquet contava, sonhava que a chuva desse uma trégua e que em acontecendo o que sonhava, ele, já de pneus para pista seca, além de não perder tempo teria uma mínima chance de vitória. Não foi o que aconteceu. Ainda na primeira volta numa traiçoeira curva de uma das “chicanes” o Lotus de Piquet se desgovernou e o carro se espatifou contra o guard rail e foi o fim daquele GP para o “Limão”.

Após a corrida, chamado pelo chefe da equipe para se explicar e, diante de toda a imprensa européia, Piquet, que não tinha “papas na língua” dispara: - O que você queria que eu fizesse debaixo daquele temporal com esse caminhão que vocês dizem que é um fórmula 1, hein?

Claro que o “chefe” não lhe respondeu, não retrucou, pois sabia que Piquet estava certo. O levaram para a Lotus com a promessa que teria um carro para brigar pelo tetracampeonato mas, realmente não foi o que aconteceu.

Por hoje é só, desculpem-me, amanhã eu continuo. Um abraço a todos!

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