Sidney Pinho Junior

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ESPORTE, REMÉDIO PARA TODOS OS MALES (Fim)

Parte 5 – Ayrton Senna e os outros...

Bem amigos (nossa, essa é do Galvão...), encerrando este primeiro ciclo de posts sobre esportes automotores que, creio, consegui passar um pouco das emoções vividas nos áureos tempos da romântica  e incomparável fórmula 1, hoje eu vou encerrar falando de Ayrton Senna, para muitos um dos melhores pilotos de todos os tempos, não para mim. Mas vou falar também e, arriscar algumas análises sobre vários brasileiros que num dado momento nos encheram de esperanças mas que, infelizmente, para eles mesmo, nunca passaram de promessas, meras promessas.

Creio que nos posts anteriores consegui, mesmo não sendo tão profundo e analítico, demonstrar e “ensinar” àqueles que não o conheceram, quem foi verdadeiramente Nelson Piquet Souto Maior, para mim e para muitos especialistas em Fórmula 1, Bernie Eclestone entre eles, o que fez, quantas alegrias e quanto talento tinha e tem este cara!

Os mais novos aficionados pela F1, essa garotada que hoje ainda não chegou aos trinta e poucos anos, hão certamente me contestar, hão até de se indignar, pois considerarão um sacrilégio estes meus comentários e considerações sobre Ayrton Senna (que Deus o tenha...) e sobre, principalmente Rubens Barrichello e Felipe Massa, brasileiros aliás pelos quais perdi incontáveis noites de sono, esperançoso de que valesse à pena acordar no meio das madrugadas de domingo para assisti-los, para por eles torcer e infelizmente me irritar profundamente.

Ayrton Senna chegou á F1 quando Nelson Piquet já havia conquistado o bicampeonato e, como quem não quer nada foi crescendo, mostrando serviço em equipes pequenas até que chegou à Lotus, que ainda era uma equipe muito forte e promissora. Não fez muita coisa por lá; apenas atrapalhou um bocado a conquista do tricampeonato de Piquet e, com aquele jeitinho de “caipira arrependido” conquistou amizades importantes como a de Galvão Bueno que o idolatrava e rejeitava o “Limão”.

Senna não conquistou nada na Lotus, apesar de permanecer por lá por duas temporadas, com belos carros e com motores fabulosos como os Renault e Honda. Mudou-se para a McLaren em 1988 e em companhia de Prost (não seria “próstata”...???...) e passou a guiar o melhor carro de F1 de todos os tempos, o MP4/3 e depois os /4 e /5, carros fabulosos que, com os motores Honda, simplesmente reinaram na F1 sem que ninguém lhes ameaçasse!

Vamos deixar uma coisa bem clara. Ayrton Senna era “piloto da Honda” e por imposição dela foi para a McLaren que preferia aberta e declaradamente Martim Brundle, que correra no ano anterior pela “Zakspeed” e era pré-contratado da Marlboro para fazer dupla com o francês Alain Prost. Como o francês vetara a ida de Ayrton Senna para a equipe inglesa, mas perdera a queda de braço com a poderosa Honda, teve que engolir o brasileiro que passou automaticamente à condição de “desafeto” declarado de Prost e não o contrário, como quis nos impor a mídia brasileira por todo o sempre.

“Le Professeur” era sistematicamente, veladamente, “desfavorecido” pela Honda, assim como Ayrton, da mesma forma pela cúpula (ou seria “cópula”...) da McLaren. Era uma guerra de bastidores da qual a mídia pouco tinha acesso. Ao final da temporada, depois de inúmeros embates entre os dois “gladiadores”, venceu por fim Senna; mas a guerra estaria apenas começando!

No ano seguinte o francês foi o vencedor do título, de forma incontestável e com um desempenho médio infinitamente superior ao do brasileiro que, imaturo que era, só pensava nas vitórias nos GP´s e se esquecia do campeonato, enquanto o francês vencia aquelas que podia ou herdava das besteiras dos outros, sem deixar de fazer seus preciosos e fundamentais segundos e terceiros lugares, que lhe garantiriam ao final do ano o precioso título de campeão.

Em 90, mais escolado e ainda com mais apoio e preferência da Honda Senna vence seu segundo campeonato. Vence sua a última guerra contra Prost dentro da McLaren e, irritado o francês se transfere para a Ferrari que na época, nem de longe era a equipe de ponta destes últimos anos. Esta temporada marcou a ida de Piquet para a equipe Benetton que tinha um carro promissor, mas um motor (Ford) inferior aos Honda, Renault e Ferrari, mas para fazer história mais uma vez, correndo ao lado de Roberto Pupo Moreno e, pela primeira vez em toda a história da F1 uma equipe européia tinha dois pilotos brasileiros como companheiros. O final da temporada foi especial para a torcida brasileira que assistia encantada ao talento de Piquet que foi um gigante aquele ano, terminando a temporada de maneira marcante, com duas importantes e significativas vitórias nos dois últimos GP´s, no Japão e Austrália e, mesmo com um carro pouco competitivo Nelsinho terminou o campeonato de pilotos com 43 pontos, atrás de Senna e Prost.

Na temporada de 1991 era Senna contra Senna, pois não haviam de fato quaisquer adversários, já que Prost se retirara da equipe inglesa acreditando que a Ferrari lhe proporcionaria um bom carro, o que não aconteceu. A fim de não aborrecer a Honda a McLaren tratou de arranjar um coadjuvante obediente e submisso á Senna, o austríaco Gerhard Berger. Ao final da temporada, mesmo tendo se revelado a Williams-Renault um carro bom e forte e seu piloto Nigel Mansell um “Leão” na corrida contra Senna, a temporada marcou o tricampeonato e último título do brasileiro na categoria. Ainda naquele ano Piquet que penara no ano anterior com o Lotus-Judd (eita motorzinho sem vergonha de ruim, não seria “Judas”...), venceu sua última corrida na F1 pilotando a Benetton no GP do Canadá, ao final da temporada Nelson Piquet se retirava da F1.

Na temporada de 1992 foi marcante, não pelas duas primeiras vitórias das inúmeras do “super campeão” Michael Schumacher que já corria pela Benetton na categoria mais importante do automobilismo mundial, mas sim por nos fazer assistir implacável surra que Mansell e a Williams aplicaram sem dó nem piedade a Senna e à McLaren. Juntando-se o fato de que, desta vez, Senna não tinha mais seus principais desafetos, Piquet que encerrara a carreira ao final da temporada anterior e o francês Prost obrigado a tirar férias compulsórias por um ano, restava apenas como adversário o “inimigo público nº 1 de todos”, o inglês Nigel Mansell que naquele ano não só atropelou Senna e todos os demais, mas como também somou quase o dobro do número de pontos do segundo colocado, justamente seu companheiro de equipe o italiano Ricardo Patrese, 108 a 56. Foram impressionantes nove vitórias de Mansell e mais três segundos lugares, além de três quebras de motor. Um passeio incontestável do “Leão Inglês”!

1993 marca a volta de Prost que, com a aposentadoria forçada do campeão Mansell, volta o francês a categoria para o posto de primeiro piloto da Williams (mesmo com o nº 2 em seu carro) para correr ao lado de Damon Hill (o nº ZERO, já que o nº 1 não existiria devido a ausência do  campeão anterior...). Senna é novamente atropelado, só que desta vez por seu maior desafeto, o francês Alain Prost que venceria sete GP´s contra cinco do brasileiro; resultado, Prost tetracampeão!

Os motores Ford cumpriam sua derrocada final e, mesmo o talento do alemão Schumacher não seria suficiente para mais do que uma única vitória na temporada, mas estavam todos avisados, surgira uma nova promessa, um talento inquestionável que se consolidaria em futuro bem próximo, desta vez um alemão, Michael Schumacher.

A temporada de 1994 foi especialmente marcante para todos os brasileiros. Após mais uma vez enxotar Alain Prost de uma equipe, mesmo desta vez sendo o francês tetracampeão, Ayrton Senna vai para a Williams-Renault, obrigando a equipe inglesa a aposentar compulsória e consecutivamente mais um campeão mundial, era o adeus e o fim da carreira do supercampeão francês.

A Williams ainda tinha o melhor carro? Talvez sim, talvez não, mas a união do carro da Benetton com o excelente motor francês da Renault, virou a mesa da lógica na fórmula 1. Parecia que não. Na primeira prova do ano, no Brasil, Senna faz a pole-position dando a impressão que aquele seria um ano previsível e sem graça, mas para surpresa geral a corrida era vencida por Schumacher com o excelente Benetton-Renault. Nada demais sentenciaram os “especialistas”, “erro de percurso” afirmaram outros, mas o GP do pacífico, disputado no Japão, a história se repetiria. Pole de Senna, vitória de Schumacher! O que estaria acontecendo, perguntavam-se todos...

No terceiro GP do ano em San Marino, no circuito de Ímola a história parecia se repetir. Senna mais uma vez faz a pole-position, mas alguns fatos agitam o circo e a morte do austríaco Roland Ratzenberger nos treinos de sábado e o grave acidente sofrido por Rubens Barrichello nos treinos livres de sexta-feira eram um sério e inequívoco aviso de que aquele fim de semana ficaria marcado na história da F1 e do esporte mundial.

Na manhã de primeiro de maio de 1994, dia da corrida fatídica e que mudou para sempre os rumos e conceitos da fórmula um, Ayrton Senna larga na frente e se mantém na liderança da prova até esta ser interrompida devido a um acidente no grid de largada. O safety car” permanece na pista até o fim da quinta volta e na relargada o brasileiro mantém a ponta até se chocar contra o muro da curva Tamburello na sétima volta. O Brasil e o mundo assistiam as cenas geradas pela RAI, TV Italiana, chocados e incrédulos com o que viam. Eu, sentado na poltrona da sala de estar do sítio de minha família no interior do Rio de Janeiro, no exato instante em que o Williams de Senna após se chocar com o muro e escorregar em direção à pista, vendo, reparando atônito que a cabeça do brasileiro era jogada de um lado para o outro, completamente sem controle aparente do piloto, vaticinei na hora... Senna estava morto!

Aos berros, já que haviam várias pessoas na casa, entre parentes e amigos, mas somente eu ligado na TV e no GP como sempre fiz em toda a minha vida, anunciei a todos o sério acidente sofrido por Ayrton Senna, certo de que o que vi tinha sido fatal. Algumas pessoas correram para a sala e por lá ficaram assistindo as imagens e aos inúmeros reprises do momento do acidente exibidos pela TV. Estávamos todos absolutamente chocados, pasmos, paralisados!
A corrida foi reiniciada não sei mais quanto tempo depois do acidente e da paralisação do GP. O corpo de Senna havia sido transferido para um hospital em Ímola e horas mais tarde seria confirmada a sua morte. Schumacher venceria sua terceira prova consecutiva e ali, em Ímola, mudou para sempre a história da Fórmula 1.

O Brasil que era um país de incontáveis talentos neste perigoso mas apaixonante esporte, perdia seu campeão mais amado; não o melhor deles mas o mais carismático, o de reações mais emblemáticas e de incansáveis demonstrações de patriotismo.

Tenho inquebrantável convicção que ali, em Ímola, morrera também boa parte do talento de Rubens Barrichello, até então uma promessa incontestável de continuidade das agradáveis manhãs de domingo e, eu não estava errado, em seu retorno, Barrichello não era mais o mesmo piloto; vacilava nas ultrapassagens mais simples, freava muito antes quando antes somente dentro das curvas, fossem elas mais agudas ou não. Naquele primeiro de maio não perdemos apenas Ayrton Senna, estou certo, perdemos também um futuro campeão, pois Rubens Barrichello nunca mais foi o mesmo.

Dezesseis anos se passaram, Rubinho até que se recuperou, mas nunca mais conseguiu ser aquele Rubinho, aquele talento que vi em Interlagos, pessoalmente nas inúmeras vitórias suas que presenciei na Fórmula Ford anos antes!

Vieram outros pilotos, mas nada. Veio Felipe Massa, mas sinceramente ainda não senti e continuo a esperar por um novo campeão. Massa certamente tentou, como o fez Rubinho, mas eles infelizmente não nasceram com a gana dos grandes campeões, com aquele algo mais que nos informa bem no íntimo de cada um de nós torcedores apaixonados, estarmos diante de um novo talento, um novo campeão, alguém que nos roubará os sonos nas madrugadas dos GP´s asiáticos, que nos fará suspirar e torcer na poltrona ao realizar uma manobra de ultrapassagem que nos fará vibrar, quase atingindo um orgasmo de profundo prazer!

Que saudades daqueles domingos Senna! Que saudade de sua Lotus preta querido Emerson! Que saudade Nelson, das suas mágicas ultrapassagens, de suas vitórias magistrais, de suas carrancas e de sua língua afiada, que saudade de seus títulos Piquet!

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